Suspiros

 

Suspiros

A um pai no dia da morte de seu filho

 

Aderson Siebra de Oliveira

 

Horas de dor… a luz das primaveras

E seus encantos vão de ti fugindo.

De negro a morte o peito teu tingindo,

Rouba ao teu lar a vida que lhe deras.

 

Vê tu que a vida são banais quimeras,

Mágoas e prantos nossa alma ferindo.

O duro solo, agora foi se abrindo,

Receberá teu filho que veneras.

 

Lágrimas quentes em tuas faces rolam,

Nem mesmo amigas vozes te consolam,

Arde o teu ser qual numa combustão.

 

Viste morrer o teu filhinho exangue,

Fugir do berço o sangue do teu sangue,

Carbonizando assim teu coração.

 

1944

Saudade

 

Saudade

 

Aderson Siebra de Oliveira (poeta caririense, irmão de José Siebra de Oliveira)

 

Quando, no véu azul do firmamento,

Contemplo a solitária e branca lua,

Formosa e excelsa surge a imagem tua

Neste meu céu, sem luz, do pensamento.

 

E neste barco, que na dor flutua,

Sozinho sofro meu grande tormento

Com a triste cena deste sentimento,

Em longa noite para mim tão crua.

 

De todas a saudade é a maior dor,

Como se visse o talo de uma flor

Fugir ela de si ao sol ardente.

 

Grava ela, n’alma em toda nossa vida

Reproduzindo o nosso amor, querida,

Fatos que vão ferindo a nossa mente.

 

Crato-CE, 7-4-1944

Estátua da Dor

 

Estátua da Dor

 

Aderson Siebra de Oliveira (poeta caririense, irmão de José Siebra de Oliveira)

 

Vê-se da serra ao cimo desfraldado

De Deus eterno pela mão, sem custo,

Verde o visgueiro, bem frondoso e augusto,

Cantando fatos tristes do passado.

 

Em busca de outras terras, desolado,

Desamparado por governo injusto,

O chapadão galgando em tempo adusto,

Morre, à sua sombra amiga, o flagelado.

 

O frondoso visgueiro hoje falando

Do flagelado que morreu lutando,

Morreu lutando, grande herói sem nome,

 

Ao povo que os seus feitos cante,

Condene tal governo e se alevante

Um monumento a quem morreu de fome.

 

Crato-CE, 14-3-1944