José Siebra de Oliveira
O folclore é o estudo da alma popular e de suas expansões no tempo e no espaço.
O folclorista enxerga dentro do amontoado de células do homem rústico e do povo humilde, na profundeza de sua linguagem rude e na originalidade de sua arte, de sua música e dos seus costumes, a sua alma singela, cheia de sabedoria, na translucidez de suas operações intelectivas e na grandeza e excelsitude dos seus sentimentos, extasiando-se na visão da diafaneidade empolgante e esplendorosa do belo espiritual que se realiza no íntimo de cada indivíduo e do conjunto.
Deslumbram-no as cambiantes feéricas das emanações suaves e sutis, em tonalidades transcendentes, das ondas luminosas deste imenso lago de cristal onde se mira a Vênus da Criação, a Deusa-Natureza, porque a alma popular é o grande espelho mágico que recebe, sente e reproduz a imagem da obra de Deus.
Quanto mais simples e livre das paixões e dos crimes é a alma do povo, tanto mais límpidos e ofuscantes são os seus reflexos e mais verdadeiras as expressões da verdade como mais surpreendentes as reproduções da beleza e mais dignificante a prática da virtude.
O povo das metrópoles, turvo pelos vícios e ensombrado pelo industrialismo e mercantilismo materialista, na sua ardente agitação de egoísmo e falsidade, não oferece ao folclorista objeto para uma apreciação sugestiva, rica de interesse.
Por tal razão volta-se ele para a alma simples do sertanejo, para as águas puras e cristalinas que se embalam com leveza olímpica no coração do caipira, do matuto humilde, do caboclo leal das pequenas cidades e dos campos, para aí deleitar-se na verdade, na beleza e na virtude que brotam desembaraçadamente, espontâneas do coração, como Deus as fez e não como os maus as pintam.
Crato, 23/3/1948
Nenhum comentário:
Postar um comentário