sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A arte – cópia da natureza.

 


A arte – cópia da natureza.

José Siebra de Oliveira, 13/03/1948

 A alma humana, criada por Deus na matéria e a esta substancialmente unida, atualizando o homem, não fosse se estampar, por meio dos sentidos, em sua tela imaterial, a série dos seres externos, permaneceria sempre no seu estado inicial de mera potência, de uma simples ¨tabula rasa¨, na expressão escolástica, nada sentindo, sem pensar e sem desejar.

      Assim aconteceria a quem, por aberração das aberrações, nascesse desprovido de todos os sentidos. Neste caso a alma humana desconheceria sua própria existência, pois só sabe ela que existe quando se enxerga nas suas próprias ações.

      Atingida no cérebro humano pelas ondas sensoriais, a alma vê, sente-se, pensa e deseja.

      Vão as coisas ao espírito como diamantes incrustados, cercados de todos os seus acidentes, dando-se a alma ao trabalho de lapidá-los, descascando-os pela abstração, de suas particularidades, tornando-os límpidos, transcendentes, desmaterializados, acima das contingências, assimilando-os, transformando-os em sua própria substância, naquilo que eles têm de mais substancial e de mais universal, que é o ser, a verdade, a bondade, a beleza, na realidade uma só coisa, diversa apenas na forma de ser vista pelo espírito.

      Entre todas as faculdades humanas encarregadas do processo de abstração e de reprodução, está a capacidade artística, potência que vê o belo e o ama, que o admira e com ele se deleita, desde quando se estampa no espírito a beleza da obra do Criador.

      Isto porém não é o fim.

      De posse a capacidade artística do quadro universal, ela o expressa, reproduzindo-o em individuações, vestindo-o de roupagem de tinta na pintura, de palavras na literatura, de notas na música, de gesso, bronze e mármore na escultura.

      Desta forma, a arte humana, quer no ponto subjetivo ou objetivo, não é senão um pálido instantâneo, kodaquizado pelo cérebro e reproduzido em cópias humildes e descoloridas, de um estreitíssimo recanto da vastidão imensa do universo.

      Para Kant ¨a arte está na harmonia entre as diversas categorias do espírito, o que se faz sem nenhuma influência do mundo externo que não existe e se existe não sabemos como é.¨ Ele todavia destruiu todas as suas afirmações quando disse que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista.

      Para Spinosa a arte na inteligência é independente da arte universal, apenas corre paralelamente àquela. Deus teria assim, para atender ao paralelismo psicofísico de Spinosa, criado dois mundos inteiramente independentes e sem influência recíproca. O absurdo está em afirmar que existem dois mundos independentes e paralelos quando não se pode receber influência alguma do outro lado.

      Para os certos, diante do exposto. A arte é uma cópia da natureza.

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