segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Sr. Egoísta


 

José Siebra de Oliveira, 16/05/1948

 

            Sr. Egoísta,

             Não trago a funda de Davi para rasgar-lhe a fronte, nem o punhal de Brutus para cravar-lhe as costas e menos o beijo de Judas afim de entrega-lo ao escárnio público.

            Dou-lhe bombas de verdades, confiando que destruirá o seu orgulho, erigindo nas suas ruínas o edifício de uma vida em Cristo.

            Veja-se contingente, gotinha d’água enegrecida à sombra dos crimes, ainda que na opulência da riqueza e do comodismo. Só o Sol infinito emprestar-lhe-á brilho e matizes, mesmo entre os pedregulhos da dor e as folhas secas da desventura.

            Não sou contra sua riqueza, o que tenho é pena de sua pobreza de espírito.

            Fite o seu destino eterno, matando os sentidos para que viva a razão, escravizando o corpo pela vitória do espírito.

            Sua alma estrondeia em visões criminosas, expressa o seu semblante cerrado com as noites de tempestades. Seu coração se entroniza no castelo do egoísmo, guarnecido pelas fortalezas dos pecados capitais, dentro das muralhas das heresias modernas, com portões feitos de ignorância e má vontade, trancados pela fraqueza de espírito.

            Não tenho interesses personalistas em falar-lhe, pois nada lhe invejo nem troco por minha paz interior. Desejo apenas que pense no seu nada, no seu curto caminho entre o berço e o túmulo e nas suas fatais consequências na eternidade.

            Antes que houvesse humanidade, os globos colossais das estrelas rolavam desde trilhões de anos, nos espaços indefinidos, na milagrosa harmonia de suas trajetórias.

            Deus, passeando nas praias da imensidão, viu que era bela a sua obra, mas faltava-lhe alguém para admirá-la e, nos espaços interestelares, que a luz gasta dez, trinta, cinquenta milênios para vencer, com a velocidade de trezentos mil quilômetros por segundo, surgiu aos olhos do Criador, como palco propício ao drama do gênero humano, um planeta obscuro, a Terra, um grão de pó entre as grandezas siderais.

            E eis o primeiro casal. Iniciou-se o drama. Seu fim só Deus sabe.

            Multiplicaram-se os homens e, depois de oito ou dez milênios, depois da aurora e crepúsculo de tantas gerações de heróis, de guerreiros, de poderosos, de milionários, que como V. Sia. também se julgavam eternas, nuzinho num pequeno berço ou mesmo numa rede de algodão, V. Sia. por graça de Deus abre os olhos para a vida, com duas finalidades, conhecer e admirar Deus na sua obra e, pela elevação sobrenatural do homem na encarnação e morte de Verbo, vê-lo em si próprio depois da morte.

            Quem diria que naquela criança inocente já se encontrassem as premissas de uma vida tão materializada.

            O clima paganizado do lar, da escola e do meio, deu-lhe uma educação desvirtuada e hoje, longe de ser livre, é um escravo.

            Sua falsa instrução tornou-o ignorante. É autômato do meio, dos vícios e dos seus amigos.

            Leu muito X-9 e Gibi, Rousseau, Renan, Marx, ruminou Alexandre Dumas e toda a literatura barata e pornográfica, estudou uma falsa história da humanidade e do cristianismo nos livros suspeitos e nas telas dos cinemas, nunca abriu um catecismo, o evangelho, nunca leu os críticos imparciais, fez uma falsa concepção dos fatos e convenceu-se de que está certo.

            Aí está a sua cultura que guia a sua vida egoísta.

            Sua alma é negra, carece de luz para ver as coisas como elas são e enxergar atém dos horizontes da morte.

            V. Sia. diz que está certo, mas tenho certeza de que V. Sia. duvida e o seu crime está na insinceridade para consigo mesmo, não procurando a verdade.

            Julgo que V. Sia. esteja resolvido a aproveitar o mais que puder a vida, na sua materialidade, por ignorar tudo sobre o espiritual. Esta atitude não é porém a conclusão certa das premissas de sua ignorância, como não foi certo para Kant atacar o Cristianismo, sendo completamente ignorante em matéria religiosa, pois nem o catecismo conhecia, como V. Sia. A conclusão certa seria, uma vez que duvida, procurar a certeza e só então, quando tranquilo estivesse o seu espírito na posse da realidade, V. Sia. poderia falar e agir com segurança.

            Levante-se e marche, pois não tardará o dia em que, podre e imóvel, V. Sia. será expulso de sua própria casa e naquela hora será tarde a procura da verdade, porque ela é que virá ao seu encontro num abraço aniquilador.

            Dizem por aí que mais vale um burro vivo do que dez homens mortos. Concordo, se a proposição se refere a homens como Napoleão, Hitler, César e até mesmo Roosevelt, pois apesar de terem brilhado no mundo, hoje são tão pequenos aos olhos de Deus e ainda avanço, mais vale um burro morto que dez homens de V. Sia. vivos, pois nessa vida orgulhosa e egoísta, não é uma célula viva e, sim, um cancro na sociedade. Aquela proposição perde entretanto o seu efeito, quando se refere aos homens como Francisco de Assis, Vicente de Paula, pois obscuros no mundo são hoje grandes estrelas diante de Deus.

            Fazendo votos a Deus por sua transformação, termino.

 

JOSÉ SIEBRA

 

Nota: Estas palavras não se dirigem a esta ou aquela pessoa, mas a todos os egoístas que as lerem.     

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