segunda-feira, 8 de maio de 2023

Nas Plagas do Ceará

 


Nas Plagas do Ceará

 

Aderson Siebra

 

 

Como é doce, como é belo

Ver-se aqui na minha terra,

Surgir lá por trás da serra

Tão formosa lua cheia,

Com sua luz prateada

Ir penetrando nas matas,

Beijando as alvas cascatas

E as brancas faces da areia;

 

Beijando as gotas mimosas

E cintilantes do orvalho,

No verde cimo do galho,

No cálix branco da flor,

Lá onde a brisa campestre

Das noites em seus retiros,

Vai desprender seus suspiros,

Suspiros longos de dor;

 

O murmurar das cascatas

Em plena noite, ao clarão,

Unir-se ao forte tufão

Que passa ali soluçando;

Longe, bem longe das praças,

Lá pelas matas sombrias,

Ouvir-se as vozes bravias

Na serra em peso ecoando;

 

O farfalhar nas palmeiras,

Do vento em ternos soluços,

Como a prostrar-se de bruços

Seu próprio amor implorando;

O vento que de além traz

O aroma das açucenas,

Nas suas asas serenas,

Da terra o manto rasgando;

 

E nas longínquas estradas

Em serenatas tardias,

O som das cordas esguias

E rijos do violão;

Que pelo espaço se expande

Com o perfume das flores

Acalentando os amores,

Da lua cheia ao clarão.

 

Se existem mágoas e dores,

Suspiros, queixas, lamentos,

Vão se acabando os tormentos,

Se aniquilando por cá.

Ó gente estranha fitai,

As maravilhas da serra

Os mil encantos da terra,

Das plagas do Ceará.

 

Crato -CE – 7/12/1944

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