Nas
Plagas do Ceará
Aderson Siebra
Como é doce, como é belo
Ver-se aqui na minha terra,
Surgir lá por trás da serra
Tão formosa lua cheia,
Com sua luz prateada
Ir penetrando nas matas,
Beijando as alvas cascatas
E as brancas faces da areia;
Beijando as gotas mimosas
E cintilantes do orvalho,
No verde cimo do galho,
No cálix branco da flor,
Lá onde a brisa campestre
Das noites em seus retiros,
Vai desprender seus suspiros,
Suspiros longos de dor;
O murmurar das cascatas
Em plena noite, ao clarão,
Unir-se ao forte tufão
Que passa ali soluçando;
Longe, bem longe das praças,
Lá pelas matas sombrias,
Ouvir-se as vozes bravias
Na serra em peso ecoando;
O farfalhar nas palmeiras,
Do vento em ternos soluços,
Como a prostrar-se de bruços
Seu próprio amor implorando;
O vento que de além traz
O aroma das açucenas,
Nas suas asas serenas,
Da terra o manto rasgando;
E nas longínquas estradas
Em serenatas tardias,
O som das cordas esguias
E rijos do violão;
Que pelo espaço se expande
Com o perfume das flores
Acalentando os amores,
Da lua cheia ao clarão.
Se existem mágoas e dores,
Suspiros, queixas, lamentos,
Vão se acabando os tormentos,
Se aniquilando por cá.
Ó gente estranha fitai,
As maravilhas da serra
Os mil encantos da terra,
Das plagas do Ceará.
Crato -CE – 7/12/1944
Nenhum comentário:
Postar um comentário