Ao Ceará
Aderson
Siebra
Eu te saúdo
meu rincão bendito
Berço de
Heróis que não temeram a morte
Erguendo um
brado, um retumbante grito,
Quebraram
os jugos da tirana sorte.
Um forte
grito que morreu bem longe,
Foi nas
quebradas em estranha serra
Aonde a
brisa festejando o monge
Passa
beijando o coração da terra.
Se tu
passaste pedestal de bravos,
Por duras
lutas, por cruentas dores,
Foste o
primeiro a libertar escravos
E sobre
eles tu lançaste flores.
Tuas
espadas, cintilantes, nuas,
Como
donzelas tão gentis despidas,
Ao sol
brilhavam nas desertas ruas,
De onde
fugiram delicadas vidas;
Onde
tombaram lutadores teus
Nessas
batalhas pelo solo ardente,
E suas
almas, murmurando, Deus,
Quebraram o
jugo desta pobre gente.
Onde os
perversos fuzilaram nobre
Partindo ao
meio corações maternos
E os
bronzes velhos com seus tristes dobres
Rompiam
fúrias, parecendo eternos.
E
criancinhas, lamentando a sorte,
Buscavam
sempre desfazer o pranto,
Mas eles
viam, enfrentando a morte,
Seus
irmãozinhos, soluçando a um canto.
Viam seus
manos, soluçando embora,
Se
despedirem do seu ninho amigo,
E relembrando
o que se foi outrora,
Abandonarem
seu primeiro abrigo;
E
penetrarem nos cenários vastos
De duras
lutas, nas remotas brigas,
Com seus heroicos
pensamentos castos
Volvendo
sempre às ilusões antigas.
Ao chão
tombaram resistindo às dores,
Esses
guerreiros deste solo bravo,
Pedindo ao
povo que lançasse flores,
Na
sepultura do primeiro escravo.
Longos
murmúrios em prisões recentes,
De sofredores,
inocentes réus,
Foram
queixumes, orações ferventes,
Que o
mensageiro conduziu aos céus.
Da
multidão, o derradeiro brado,
Levou o
vento, percorrendo espaços,
E o teu
caboclo como herói soldado
Da
escravidão arrebentou os laços.
Nos
horizontes, logo foi surgindo,
Saudando a
raça que cantou vitórias
O sol
radioso lá dos céus tingindo
Os teus
martírios com punhais de glórias.
Ó terra
minha, relicário santo,
Torrão de
crentes, que, de paz suspira,
Deixa teu
filho desprender um canto
Quebrando
as cordas da sonora lira.
Eu te saúdo
meu rincão bendito
Berço de
heróis que não temeram a morte
Erguendo um
brado, um retumbante grito,
Quebrando
os jugos da tirana sorte.
Um forte
grito que morreu bem longe,
Foi nas
quebradas em estranha serra
Aonde a
brisa festejando o monge
Passa
beijando o coração da terra.
Crato, 1°
de junho de 1944
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