Discurso
de Páscoa
Perdido
o viajante do seio da floresta, enlouquecido pelos fantasmas que, no cérebro,
lhe projetam sombras selvagens na mata escura, onde o silêncio tem bramidos
mais fortes que o dos trovões, onde a luz não beija o solo nem se mostra na
copa dos arvoredos, onde os gritos dos animais fazem tremer a terra, perdido,
sem esperanças e desalentado, que alegria poderá sentir, ninguém expressará com
palavras, ao vislumbrar, em sua frente, um retalho de céu azul e, logo depois,
um panorama de planícies e de horizontes abertos. A sua alma encherá a vastidão
dos espaços e rolará no tapete verde das baixadas, como carregada por uma
caudal de imenso contentamento.
Mergulhado o marinheiro na
profundidade dos oceanos, sentindo a densidade das águas oprimindo as paredes do
submarino, como esmagando o seu próprio ser, noites e dias infindos, dentro da
noite do fundo dos mares, ignorando o momento de retorno ao lar, empenhado numa
guerra internacional, mergulhado na profundidade dos oceanos, que júbilo lhe
arrepiará a alma, e quem poderá medir, ao ver de repente, saindo à face dos
mares, erguendo sua cabeça, um céu cheio de estrelas, numa madrugada de ouro,
num horizonte de pérolas. Maior que o seu olhar, que cobrirá a superfície das
águas e dançará na profundidade dos espaços, será a satisfação do seu coração
extasiado.
Assim também, a alma pecadora,
mergulhada na lama de todos os vícios e de todos os crimes, açoitada pelas
tempestades das dúvidas e das preocupações, atormentada pela sede de verdade e
pela fome de tranquilidade, asfixiada nas trevas da ignorância e das paixões,
com o coração cheio de sombras atordoantes, com o espírito inquieto e quase
desesperado, que paz experimentará, quem poderá traduzir, ao ver e sentir
descer sobre si um raio de luz transcendente, destruindo toda a escuridão e
todas as penumbras, um raio de luz, vindo do eterno SOL, do Supremo Criador e
Conservador de Todas as Coisas.
Nós vivemos hoje este descortinar de
belos e luminosos horizontes, esta madrugada maravilhosa do espírito, este
nascer de sol sobrenatural, enlevando os nossos corações nas asas purificadoras
da graça.
Jesus de Nazaré, neste dia de Páscoa,
fez-nos sentar com ele no banquete eucarístico e não só isto, deu-nos a sua
carne e o seu sangue para alimento de nossa vida.
Que esta amizade entre nós e Cristo
sempre se prolongue no futuro, pois só ele pode dar-nos a paz interior. E, se
tivermos a desventura de nos separarmos dele com novas quedas, levantemo-nos,
porque covardes são aqueles que caem e ficam estendidos. Heróis os que se
levantam e marcham.
A D. Francisco, cuja humildade e
caridade são um contínuo sermão, arrastando os seus diocesanos para o bem, a D.
Francisco esta chama ardente do episcopado nacional, o nosso afeto de filhos em
Cristo.
Ao padre Montenegro, primeiro pregador
de nossa Páscoa, e que sempre, com boa vontade e as melhores atenções, tem nos
cedido o Colégio Diocesano a todas estas senhorinhas que, neste momento, nos
servem, o nosso grande agradecimento.
O padre Rubens, que despeja as
verdades da fé com tanta bondade e com tanto segurança, lança-nos num profundo
mistério, para o qual não encontramos explicação e nem argumentos, o de não
podermos compreender como o seu tamanho comporta alma tão grande, cheia de
bondade e de sabedoria.
Ao padre Rubens a nossa mais viva e
sincera gratidão, pela chama de fé e de boa vontade que deixou acesa em nossos
espíritos.
Tenho dito.
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