domingo, 19 de julho de 2020

Discurso de Páscoa



Discurso de Páscoa



            Perdido o viajante do seio da floresta, enlouquecido pelos fantasmas que, no cérebro, lhe projetam sombras selvagens na mata escura, onde o silêncio tem bramidos mais fortes que o dos trovões, onde a luz não beija o solo nem se mostra na copa dos arvoredos, onde os gritos dos animais fazem tremer a terra, perdido, sem esperanças e desalentado, que alegria poderá sentir, ninguém expressará com palavras, ao vislumbrar, em sua frente, um retalho de céu azul e, logo depois, um panorama de planícies e de horizontes abertos. A sua alma encherá a vastidão dos espaços e rolará no tapete verde das baixadas, como carregada por uma caudal de imenso contentamento.
            Mergulhado o marinheiro na profundidade dos oceanos, sentindo a densidade das águas oprimindo as paredes do submarino, como esmagando o seu próprio ser, noites e dias infindos, dentro da noite do fundo dos mares, ignorando o momento de retorno ao lar, empenhado numa guerra internacional, mergulhado na profundidade dos oceanos, que júbilo lhe arrepiará a alma, e quem poderá medir, ao ver de repente, saindo à face dos mares, erguendo sua cabeça, um céu cheio de estrelas, numa madrugada de ouro, num horizonte de pérolas. Maior que o seu olhar, que cobrirá a superfície das águas e dançará na profundidade dos espaços, será a satisfação do seu coração extasiado.
            Assim também, a alma pecadora, mergulhada na lama de todos os vícios e de todos os crimes, açoitada pelas tempestades das dúvidas e das preocupações, atormentada pela sede de verdade e pela fome de tranquilidade, asfixiada nas trevas da ignorância e das paixões, com o coração cheio de sombras atordoantes, com o espírito inquieto e quase desesperado, que paz experimentará, quem poderá traduzir, ao ver e sentir descer sobre si um raio de luz transcendente, destruindo toda a escuridão e todas as penumbras, um raio de luz, vindo do eterno SOL, do Supremo Criador e Conservador de Todas as Coisas.
            Nós vivemos hoje este descortinar de belos e luminosos horizontes, esta madrugada maravilhosa do espírito, este nascer de sol sobrenatural, enlevando os nossos corações nas asas purificadoras da graça.
            Jesus de Nazaré, neste dia de Páscoa, fez-nos sentar com ele no banquete eucarístico e não só isto, deu-nos a sua carne e o seu sangue para alimento de nossa vida. 
           Que esta amizade entre nós e Cristo sempre se prolongue no futuro, pois só ele pode dar-nos a paz interior. E, se tivermos a desventura de nos separarmos dele com novas quedas, levantemo-nos, porque covardes são aqueles que caem e ficam estendidos. Heróis os que se levantam e marcham.
            A D. Francisco, cuja humildade e caridade são um contínuo sermão, arrastando os seus diocesanos para o bem, a D. Francisco esta chama ardente do episcopado nacional, o nosso afeto de filhos em Cristo.
            Ao padre Montenegro, primeiro pregador de nossa Páscoa, e que sempre, com boa vontade e as melhores atenções, tem nos cedido o Colégio Diocesano a todas estas senhorinhas que, neste momento, nos servem, o nosso grande agradecimento.
            O padre Rubens, que despeja as verdades da fé com tanta bondade e com tanto segurança, lança-nos num profundo mistério, para o qual não encontramos explicação e nem argumentos, o de não podermos compreender como o seu tamanho comporta alma tão grande, cheia de bondade e de sabedoria.
            Ao padre Rubens a nossa mais viva e sincera gratidão, pela chama de fé e de boa vontade que deixou acesa em nossos espíritos.
            Tenho dito.

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