A
Dança das Cores
José
Siebra
Um
instante... e eis-me num mundo de mistérios, boquiaberto na incompreensão de
sua essência e na admiração de sua beleza.
Os corpos são fluídicos como o luar,
leves como a luz das estrelas, delicados como o perfume dos lírios e suaves
como o zéfiro da noite.
Vejo-os finíssimos e vaporosos,
irrequietos e fugidios.
Talvez eu delire... mas não. Quem
delira não pensa, sofre nas vagas revoltas da imaginação, num remoinho de
coisas confusas e arrepiantes, uma compressão esmagando o ser, uma asfixia
torturando a alma.
Avanço por luminosos meandros, de
tenuíssimas substâncias, surpreendentes em todas as tonalidades de cores, que ora
se avivam e ora se amortecem, antes se distinguem e logo se confundem.
Uma melodia encantadora, uma divina
harmonia, silenciosa como o pensamento, qual essa orquestração, muda e
eloquente, que sempre sintonizamos, vinda dos abismos dos infinitos espaços, em
noites de plenilúnio, faz-me embevecido.
Estarei no mundo dos seres
encantados, onde vivem e proliferam os deuses? Encontrarei o trono de Vênus e o
palácio de Cupido?
Vou
indo, sem saber por onde, ignorando tudo e já ficando louco.
Nos
objetos resistência não encontro. Em todos os matizes, num ritmo celeste, ninfas
bailam em danças divinas que jamais expressou a arte humana, balançando as
formas intangíveis dos divinos corpos como reflexos cambiantes de neve.
Uma
gaze safírica, tecida de fios de luz, serve de bastidores às celestes atrizes.
As
cenas se repetem mais variadas, mais coloridas e mais empolgantes.
Agora
compreendo, piso a fantástica região dos seres luminosos.
Assisto
ao bailado das cores que, como em miragens, tudo apresentam e em tudo se
transformam, nascida das vibrações atômicas, na profundeza dos seres, quando
fecundadas pelo sol, e atiradas neste palco tão fantástico e tão estranho, mas
tão perto e tão real.
Descubro-me
mergulhado na confortadora visão deste cenário tão soberbo, tão simples e tão
belo, onde o universo se estampa em formas fluídicas e luminosas, numa sucessão
ininterrupta de maravilhosos quadros, o palco do olho humano, onde somente pode
haver a dança das cores, pois fora dele, sem que se fale no espírito, tudo é
nada mais que matéria e movimento.
Baixa
o pano. Fecham-se ligeiras as pálpebras dos olhinhos vivos, brilhantes, alegres
e buliçosos de minha filhinha Maria Goretti, nos quais, por alguns instantes,
estive com a minha vista mergulhada.
Crato-CE,
6 de junho de 1956
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